O prêmio Nobel da Paz de 2024 foi concedido ao grupo japonês Nihon Hidankyo, que luta contra as armas nucleares. A organização é formada por sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki. O prêmio foi um “lembrete ao mundo dos riscos do uso de armas nucleares” em um momento de guerras escalando ao redor do globo, afirmou o comitê do Nobel.
A organização japonesa Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki e que luta pela abolição das armas nucleares, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2024, anunciado na manhã desta sexta-feira. Também conhecida como Hibakusha, a organização premiada é um movimento popular de sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki – em 1945, os Estados Unidos lançaram bombas nas duas cidades japonesas, matando entre 120.000 e 200.000 pessoas e marcando o fim da Segunda Guerra Mundial.
Foi a única vez que armas nucleares foram usadas durante guerras e conflitos no mundo. O comitê do Nobel afirmou que a decisão foi “um lembrete ao mundo atual de que essas armas nunca devem ser usadas novamente”. O uso de armas nucleares, que se tornou um tabu após Hiroshima e Nagasaki, está sendo reconsiderado em duas das três grandes conflitos atuais – as guerras na Ucrânia, no Oriente Médio e em Sudão. A retirada dos EUA do acordo nuclear que tinha com o Irã em 2018 também alimentou o debate.
No Oriente Médio, o envolvimento do Irã – que em setembro atacou Israel com mísseis em defesa do Hezbollah e do Hamas, financiados por Teerã – levou o regime do país a considerar abertamente a possibilidade de criar um programa nuclear militar. O Irã possui warheads nucleares, mas após um acordo histórico com os EUA, se comprometeu a usar as usinas apenas para fins civis. Em 2018, porém, o então presidente americano, Donald Trump, se retirou do acordo. Na semana passada, o Parlamento iraniano anunciou que recebeu um projeto de lei do governo para a “expansão da indústria nuclear do Irã”, que ainda será votado.
Na guerra na Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, falou várias vezes de uma ameaça nuclear contra o Ocidente. E seu aliado Coreia do Norte, tecnicamente ainda em guerra com a Coreia do Sul, também constantemente afirma possuir warheads nucleares. Especialistas também apontam que Israel possui seu próprio programa nuclear militar, mas o país nunca comentou sobre a suspeita. Os esforços da Nihon Hidankyo têm contribuído para manter o tabu das bombas nucleares. Atualmente, porém, esse tabu está ameaçado. “Essa é uma forma de lembrar o mundo da necessidade de desarmamento nuclear”, disse o comitê do Nobel.
De acordo com a organização, a decisão deste ano foi motivada “por todos os conflitos ocorrendo no mundo neste momento”. “Isto é um lembrete para nós de que essas armas nunca devem ser usadas novamente”, disseram os organizadores. “O prêmio foi uma reconhecimento à Nihon Hidankyo por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar através de testemunhos que as armas nucleares jamais devem ser usadas novamente”, disse o comitê.
O grupo anti-nuclear japonês ganha o Prêmio Nobel da Paz de 2024
O Nihon Hidankyo foi informado sobre o prêmio através da imprensa. Após o anúncio, o diretor da organização, Toshiyuki Mimaki, falou com a imprensa em Hiroshima, onde a sede do grupo está localizada. “(O prêmio) será uma grande força para lembrar o mundo de que a abolição das armas nucleares pode ser alcançada”, disse o diretor, que é sobrevivente do bombardeio em Hiroshima. A organização é inteiramente composta por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki.
Quem ganha o Prêmio Nobel da Paz recebe uma recompensa de US$ 1,1 milhão (cerca de R$ 6 milhões), além de um diploma e uma medalha de ouro. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, disse ter achado “extremamente significativo” que o prêmio deste ano tenha sido dado a uma organização de seu país, “que há muito tempo vem trabalhando pela abolição das armas nucleares”.
No ano passado, o prêmio foi concedido à ativista iraniana Narges Mohammadi, a voz da revolução feminina histórica de seu país. Mohammadi foi a 19ª mulher a receber o Prêmio Nobel da Paz, que já foi concedido a 92 homens. Antes da cerimônia de premiação, especialistas apontaram António Guterres, secretário-geral da ONU, a Agência das Nações Unidas para Ajuda e Obras de Socorro aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e a Corte Internacional de Justiça (CIJ) como favoritos. As casas de apostas também indicaram o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como um dos favoritos.
Neste ano, 286 pessoas foram indicadas para o prêmio, incluindo o Papa Francisco, embora a lista completa seja mantida em sigilo por 50 anos. O Comitê Nobel Norueguês, composto por cinco pessoas nomeadas pelo Parlamento Norueguês, é responsável pela decisão final. De acordo com o testamento de Alfred Nobel, o Prêmio Nobel da Paz deve ser concedido à pessoa ou organização que tenha feito uma contribuição significativa para a fraternidade entre as nações, a abolição ou redução dos exércitos permanentes ou a promoção de congressos de paz.